29 agosto, 2012

Inimicum by Beeh


Hermione Granger por anos foi uma pessoa amarga e nunca soube ao certo a razão de Draco a abandonar. Agora ela é uma auror e ele um comensal, entretanto um encontro faz com que ambos voltem ao passado e segredos sejam revelados.


Inimicum

Let me fall




Respiro.

O ar foge de meus pulmões, eu mal posso sentir minha respiração. Prendo-a. Tento em vão soltá-la, é difícil. Sinto uma agonia crescer em meu peito, abraço-me, minha pele é fria, assim como a fina chuva que cai do céu, banhando minha face, meu corpo, lavando meus pecados , porém ela não consegue levar para longe meu pesar, mesmo depois de tanto tempo.

O céu ali nunca me parecera tão tristonho, talvez transparecesse meu estado. Agarro-me mais forte, querendo que eu me desvaneça com esse aperto. Sou a escória da sociedade. Minha sina é a morte para aqueles que me odeiam. Meu sangue é tão poluído quando o de uma meretriz.

– Você não deveria estar aqui – a voz vem até mim, familiar, com um leve tom de ameaça. – Este é o um lugar para você.

Há em seu tom certa irritação. Há em seus olhos o desejo de se aproximar mesclado ao medo de me possuir ali mesmo. Quem iria querer cair em tentação? Quem cairia por causa de uma sangue-sujo? Anjos não caem, porém ele não era um anjo, ainda que o parecesse. Ainda que eu secretamente desejasse voar para o infinito com ele e possíveis belas asas de plumas.

Eu o fitei. Vê-los entre as lápides causava-me arrepios. Ele era quem não tinha o direito de estar ali.

– Um cemitério é um lugar para todos. Eventualmente – respondi e dei-lhe as costas, fitando a lápide novamente.

A superfície cinzenta era gélida e estava úmida devido à chuva. O home m aproximou-se e colocou acima de minha cabeça seu guarda-chuva negro. Eu o olhei confusa, como poderia ele ainda importar-se depois de tudo o que acontecera? Seu rosto era jovem, porém a expressão era a de um velho. Não combinavam com seus poucos 26 anos.

– Por que está aqui, Draco? – perguntei avaliando o loiro a minha frente.

Ele devolveu o olhar e em seguida fitou a lápide, apontando-a.

– Não é óbvio? Estou aqui por ela – o homem falou e abaixou-se, depositando cravos brancos no túmulo cinzento.

Olhei para um ponto um pouco mais a frente, onde uma estatua de um anjo fora colocada, era enorme e sombria, dava-me medo ao mesmo tempo em que me fascinava pela beleza. A cruz na lápide era negra e assustadora.

– Já faz cinco anos, Hermione – ele comentou e percebi a mudança em seu tom.

Não era mais hostil, por um segundo ele era novamente o antigo Draco Malfoy. O Draco pelo qual eu me apaixonara. O meu mais doce inimigo.

– Não me lembre – pedi e senti lágrimas vindo sem permissão, virei-me para escondê-las, mas era impossível, Draco podia perceber qualquer aspecto de meu estado destruído. Sempre fora assim.

– Ela foi nossa salvação e também a perdição... – Draco falou e eu funguei, chorando. – Pare de chorar, já faz tanto tempo e nada irá voltar.

– Cale a boca – falei virando-me novamente para ele – Eu sei que ela não voltará... eu sei...

Senti os braços dele me envolverem.

Inimigos.

Amantes.

Estranhos.

O que diabos éramos?

Ele me abraçava e eu permitia seu toque. Já havia meses que não o via. E fazia já anos que não nos falávamos. Hoje era apenas um acaso. Nunca o vi antes na lápide onde agora estávamos. Entretanto, já vi flores antes no túmulo, sempre cravos brancos.

– Você deveria estar com os comensais, não abraçado a uma sangue-ruim – falei, mas não o soltei, nem ele a mim.

– E você deveria estar com a Ordem – Draco falou no mesmo tom e eu afundei em seu peito.

Senti ele tocar meus cabelos. O que acontecera conosco? Ele disse que ficaríamos sempre juntos, dissera que nada nos separaria, jurou por tanto tempo. Quão tola fui, deveria imaginar o quanto ele era um fraco. Desde quando um Malfoy enfrentaria a família por uma garota como eu? Desde quando ele abdicaria a nobreza? Sujar seu sangue azul? Nunca!

Eu me afastei, incapaz de me controlar, incapaz de controlar às lagrimas.

– Hermione...

– Volte para eles. Você é para sempre meu inimigo, o passado não volta, e os mortos não ganham vida. Então o que tínhamos não voltará tampouco – falei e ele tentou tocar-me uma vez mais – Não, me deixa.

Eu dei um passo para trás e fiz menção de partir, mas ele me conteve.

– Você fica, estava aqui antes, merece ela mais do que eu. Eu irei – Draco falou. – Eu só queria dizer, antes de ir... adeus, Hermione.

– Para onde vai? – perguntei antes de poder conter-me. Para o diabo com meu orgulho, eu ainda me importava com Draco Malfoy.

– O Lord das Trevas nomeou-me o terceiro em comando depois que meu pai morreu no último ataque... quando o Potter o matou – Draco falou com uma carranca. – Irei para a França. Há partidários lá e eu não deveria dizer isso para uma auror, entretanto, aqui estou eu me arriscando, falando coisas que não deveria...

– Diz porque quer – falei.

– Não, Hermione. Eu falo porque desejo que seja o seu lado o vencedor. – Draco falou e eu mal pude acreditar em suas palavras. – Eu quero que você confie em mim, mas eu não sei como ter sua confiança. Ninguém sabe o quanto tem sido difícil esses anos todos.

Eu ri, incapaz de acreditar no que ele me dizia.

– França então? – falei. – E voltará?

– Acredito que não – o loiro falou e percebi seus olhos escurecerem, ele tocou o casaco negro e tirou de lá uma carta. Entregou-a a mim. – Eu pensei que teria que procurá-la por toda Londres para te entregar isso. Desculpe-me por só ter essa atitude agora – ele falou e eu não entendi. – Demorei tempo demais para dizer-lhe certas coisas. Perdão, Hermione.

Senti medo, nunca o vira naquele estado. Abri a carta, mas ele me parou.

– Deixe-me partir antes de lê-la. Pelo amor de Merlin! – ele pediu.

Eu estava confusa. O que diabos ele tinha a me dizer? Por que não dizer-me pessoalmente? Por que demorou tanto tempo, como revelou há pouco? O loiro pegou-me pela mão e puxou-me, a carta ficou entre a minha própria pele e a dele. Os lábios dele procuraram os meus e eu cedi, entorpecendo-me em seu cheiro. Sentindo-me nas nuvens, como desejara estar minutos atrás. Ele me tocava com angustia, como se quisesse guardar-me para sempre, como se esse toque fosse o ultimo que teríamos e eu sentia que realmente o era. Um último beijo de Draco Malfoy. Estremeci e o abracei, deixando que uma lágrima deslizasse em minha face.

Draco afastou-se bruscamente e eu quase cai na terra úmida, ele partia e eu queria gritar para que ele voltasse. Fitei novamente a lápide, li os dizeres calmamente, porém com um aperto do coração.


Helena Lysandra Malfoy

23 de janeiro de 2011 - 10 de agosto de 2001


Abri a carta, sem controlar minha curiosidade e nervosismo, a letra dele apareceu a minha frente e eu me senti aliviada em ter parte dele comigo.




Minha querida Hermione,

Escrevo a ti e lembro-me das cartas de nosso passado. Eu costumava escrever-lhe todo o verão que passamos separados no último ano de Hogwarts. Como eu queria voltar para aquele tempo. Com dezessete anos pensava que a vida era difícil, agora, quase dez anos depois, vejo que aquilo não era nada. Eu a tinha ao menos, e os anos de nosso casamento foram os melhores da minha vida. Sonho com teu sorriso, com seus lábios nos meus. Desejo senti-los novamente todos os dias. Sinto falta de vê-la acordar ao meu lado, sinto falta até mesmo das pequenas provocações que fazíamos um ao outro. Sinto saudades de teu perfume, dos teus olhos dourados, do teu corpo inteiro. Penso que irá me odiar quando findar a leitura desta carta, por esconder por tanto tempo, a verdade é que eu precisei desses anos para descobrir a informação a qual eu queria, algo que devolverá parte da tua felicidade. Minhas mãos doem ao escrever estas palavras, mas não posso ficar mais um segundo sem falar a ti a verdade. Na noite de 10 de agosto de 2001, há cinco anos, lembro-me de vê-la caída no chão, lembro do sangue e da casa destruída. Eu estivera desacordado. Elissa estava em seu colo, ela não chorava e também não acordava. Desesperei-me. Minha filha estava entre a vida e a morte e eu temia que você também estivesse. Não estava. Logo você despertou e agarrou-se a Elissa mais ainda, chorando e chorando. Não pude acalmá-la. Comecei a gritar por Helena, lembra-se? Não sei se suas memórias daquela noite ainda permanecem, mas sei que foram alteradas para torturarem a mim e a você. Assim que gritei por Helena, você pareceu se desesperar mais e levantou-se, pronta para procurar a nossa outra menina.

Lembro de ouvir o choro dela e em seguida uma risada que me arrepiou até a alma. Você não se lembrará disso meu amor, e eu não posso culpá-la e também não pude resgatar essa tua memória. O fato era que Bellatrix Lestrange aninhava nossa Helena nos braços. E ela chorava, reconhecendo que estava nos braços de uma tia-avó malévola. Eu tentei tirá-la nos braços de Lestrange, mas ela me afastou com sua varinha. Desculpe-me, Hermione, por não ser capaz de protegê-las. Você tentou salvar Helena e também falhou, pensei que receberia a morte, mas não. Você recebeu uma tortura pior. Viu, sem poder se mover, Bellatrix tirar a vida da nossa Helena. Eu tentei salva-la, minha Hermione, eu juro que tentei, mas era fraco e logo Bellatrix tirou Elissa de seus braços. Ficou repetindo que um Malfoy deveria zelar pelo seu sangue e que os galhos pobres de nossa árvore genealógica deveriam ser cortados. Supliquei por Elissa. Pedi pela vida dela, disposto a trocar a minha vida pela dela. Minha tia estava se divertindo com a nossa angustia e concluiu, ao final de tudo, que manter a nós separamos era mais divertido do que nos matar. Uma família separada. Bellatriz era a insanidade pura. E inveja. Ela nos invejava. Rodolpho Lestrange nunca a amou e ela nunca pode ter os próprios filhos. Uma estéril, seca por dentro, era o que ela era, invejando à minha própria mãe por me ter, à Andromeda com Nymphadora, à você com Helena e Elissa.

Bellatriz Lestrange propôs um contrato. Ela manteria a sua vida, a minha e a de Elissa se eu me juntasse ao Lord novamente e me afastasse de vocês duas. Vivos, mas separados. Lembro-me bem de vê-la dizer não, mas eu disse sim. Aceitei ao acordo por não poder lutar contra ela. Fiz um voto perpétuo, jurei que nunca revelaria a você sobre a existência de Elissa e seu paradeiro. Jurei que serviria ao Lord. E que em troca Bellatrix e nenhum comensal as mataria.

E ao fim, só então eu compreendi todas as minhas palavras e a insistência de Bellatrix naquele juramente. Ela apagou as suas memórias. E no outro dia você acordou sem mim e com Helena morta. Eu acordei em minha antiga casa, com minha mãe zelando meu sono. E Elissa eu não fazia idéia de onde estava. Minha menininha estava perdida, e eu vi uma brecha em meu voto. Eu estava livre para procurá-la. E a encontrei. Se estiver lendo esta carta, significa que matei Nagini, o último horcrux de Voldemort. Potter pode matá-lo e eu espero que o faça logo. Algo que também é certo é a morte de Bellatrix. A matei quando soube o destino de Elissa. Mesmo que você não se lembre de sua filha, sei que irá amá-la de qualquer modo, porque é nossa. E agora as duas estão livres da insana Lestrange. Pegue a chave que lhe dei, é a chave para a minha casa, não a antiga mansão Malfoy, mas sim onde eu vivia até hoje, você sabe onde é, minha querida, lembro que o Ministério da Magia ama investigar minha casa à procura de informações de Voldemort. Elissa está lá, esperando-a.

Tive a maior surpresa ao levá-la para a minha casa e ouvi-la gritar ao ver o seu antigo piano, onde você costumava tocar e cantar como um anjo. Elissa sentou-se ao piano e começou a tocá-lo. Por Merlin, ela tem cinco anos e já sabe uma melodia! Sua voz infantil me desconcertou e eu soube ali que ela era igualzinha a você.


Can't you see that it's a beautiful world

Come with me, I'll show you

Open your eyes and see the beauty around

Take my hand, and I'll lead you

It's so wonderful, so magical


Esses foram alguns versos que ela cantara e logo parou, sentindo-se repentinamente envergonhada e me olhou sorrindo, perguntando aonde estava a mulher má. Respondi que ela se fora e ela sorriu, sorri junto com a pequena e disse-lhe que ela logo conheceria sua mãe.

Se você estiver lendo esta carta, meu amor, saiba que te amo, com todas as minhas forças.

E diga a Elissa que sempre a amei e amarei também, porque eu poderei dizer agora a Helena o quanto você a ama.


– Draco Malfoy


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