31 janeiro, 2011

Meu amor


Contos de fadas existem? Eu penso que não. Se existissem eu teria felicidade. Se existissem eu não sentiria essa dor no peito agora. Se existissem eu queria ser o herói, o príncipe.
Mas não, eu sou a fera, mal e destrutivo, alguém que fere as pessoas ao seu redor.
Eu queria não ser o vilão. Não queria ser quem sou. Mas construir uma nova vida não está mais em questão. Eu deveria morrer, assim talvez eu nascesse de novo e poderia ser o que hoje não sou: Bom.
Mas será que eu mereceria nascer de novo? Será que eu não me tornaria a mesma coisa que eu sou hoje? Hoje. O pior dia da minha vida. Eu tenho que aguentar esse sofrimento, eu mereço sofrer, e vê-la partir é meu castigo. Ela, com seu perfume aromático, o meu sol cálido das manhãs, a razão de minha irracionalidade, a lua suntuosa que faz minha noite iluminada. Não. Ela não é minha. Não mais.
Todos os dias em que eu a desprezei parecem tão pequenos diante do que eu fiz a ela hoje. Todos os dias em que eu a tive, a beijei, a abracei, parecem ser muito mais do que mereci.


Flashback


Tale as old as time
Um conto tão velho quanto o tempo
 True as it can be
Tão verdadeiro quanto pode ser
 Barely even friends
Mal são amigos

Lá estava ela, como sempre respondendo perguntas difíceis e inteligentes. Eu prestava atenção em tudo: seu olhar concentrado, o sorriso de triunfo, o brilho nos olhos, o sorriso maravilhoso. Como ela poderia ser tão irritantemente perfeita? Não. Ela não era perfeita. Sangue-ruim, chata sabe-tudo e o que mais? Eu não saberia dizer. Qualidades? Altruísta, protetora, corajosa, talentosa, inteligente, linda...
Nada de mais, ela ainda era uma sangue-ruim. Mas era bom vê-la sorrir, era bom vê-la feliz, como se nada que eu fizesse pudesse afetá-la. Mas era divertido provocá-la e não custava nada tentar tirá-la do sério.
– Já pensou em abrir uma escola, Granger? Sabe, com pessoas iguais você. Sangue-ruins, chatos-sabe-tudo e ridículos desprezíveis. – Eu ri com minha própria provocação e a vi gesticular uma revidada.
– E você Malfoy? Já pensou nisso? Estudar com pessoas egocêntricas, loiras oxigenadas e sem um mínimo de noção? – ela me provocou também e eu vi a vitória em suas íris castanhas, eu não podia acreditar que eu estava sendo humilhado por ela na frente de toda a sala. Ela não deveria sequer dirigir sua voz a mim.
– Pena que ninguém poderia confirmar isso sobre mim ao contrário de você. Você é uma sangue-ruim, é uma sabe-tudo, é chata... A lista é grande... – eu provoquei e vi o sangue tomar conta de seu rosto, ela se irritou, eu sorri.

Then somebody bends
E então alguém se curva
 Unexpectedly
Inesperadamente
 Just a little change
Só uma pequena mudança
Small, to say the least
Pequena, pra não dizer nada

– Malfoy, como você consegue ser tão... – ela não terminou e eu vi uma lágrima brilhar em sua face. É meio estranho admitir, mas isso me incomodou.
– Diga exatamente o que eu sou. – Eu exigi entre dentes a fitando mais intensamente, e pouco a pouco eu não via mais o corredor em que estávamos, eu não lembrava que estava monitorando, eu não ligaria se Voldemort aparecesse aqui nesse exato momento e dançasse feito um palhaço, era só eu e ela agora.
– Tão mal. – Ela gesticulou essas palavras meio relutante.
Eu via mágoa em seus olhos, eu via que ela estava com medo de mim, eu deveria estar extremamente zangado pelo que ela fizera, ela me humilhou perante todos, ela me jogou na parede inconscientemente. Eu ainda ouvia nitidamente suas palavras.

“Malfoy, você é tão... Ridículo e desprezível! Se acha o sonserino mais temido, o mais perigoso, mas não é. E sabe o que você realmente é? Um sonserino idiota, filhinho de papai, mimado e hipócrita. Diga-me uma coisa. Você realmente acredita que as pessoas ficam perto de você por gostarem da sua maravilhosa presença? Elas só querem a sua popularidade, o seu dinheiro, elas querem você, mesmo sendo só mais um.”

– Você não sabe o que diz – eu tentei não assustá-la com meu tom depois de lembrar o que ela me disse mais cedo, na frente de toda a escola.
– Você acha que o que eu fiz foi pior do que você me fez todos esses anos? Você acha que o que eu disse supera todas as vezes que você me chamou de sangue-ruim? – ela disse mais relutante ainda – eu realmente não te entendo.
– Você não me entende? – eu perguntei me controlando ao máximo para a raiva e o ódio não tomarem conta de mim. – Realmente, você não me entende. – Eu não sabia o que falar. Ela impedia meus pensamente de fluírem e acabei falando besteira, algo que nunca pensei que diria – É tão frustrante eu não saber nada sobre você, sempre a mais inteligente, a mais protetora... Eu não entendo como você consegue pensar em proteger o Potter, você sabe que é inútil proteger alguém destinado a morrer. Você é tão... grifinória.
– Idiota! O Harry não vai morrer enquanto eu estiver por perto. Ouviu? Eu posso ser tudo o que você diz, mas eu sou leal acima de tudo.
– E pensar que eu... – comecei a dizer sem pensar e não terminei. Seria demais ela saber que eu pensava nela essas semanas de um modo diferente. Eu desviei meu olhar para o chão.
– Você o que? – ela me pressionou a dizer.
– Pensei que poderia te entender... – ela me olhou incrédula pelo meu tom ter mudado de repente.
– Por que você quer me entender? – ela perguntou me fitando.
– Eu realmente não sei... – respondi com uma sinceridade que eu não tinha – é só que tudo parece diferente. – Eu fitei meu braço esquerdo por um segundo e logo desviei meu olhar, não queria que ela soubesse o que eu era. Nunca desejei tanto poder rasgar essa página sombria da minha vida, eu era um comensal, criado unicamente para matar.
– Por que você escolheu esse lado? – ela perguntou e eu tive a leve impressão que ela me viu olhando meu braço, mas talvez fosse apenas isso. Impressão.
– Eu não escolhi, nunca ouve o que escolher...  – eu respondi seco e vi o olhar surpreso dela. – Você não está pensando que eu seja bom, não é? Nem ouse pensar nisso. Eu não sou...
– Você acha que não é. Mas eu posso ver em seus olhos. E uma vida cheia de ódio e maldade não é uma vida.

Both a little scared
Os dois um pouco assustados
 Neither one prepared
Nenhum dos dois preparados

Estávamos sozinhos, trancados nesse armário de vassouras e perto demais. Eu podia sentir o perfume dela invadindo minhas narinas, se eu me mexesse um pouco eu poderia tocá-la, a respiração dela estava alterada, assim como a minha.
– Você acha que aquela gata idiota ainda está nos procurando? – ela me perguntou baixo e o hálito quente da sua boca envolveu-me mais ainda.
– Talvez – eu disse com minha voz arrastada.
Passava do horário de estarmos nos nossos dormitórios, mas eu nem ligava, minha cama podia me esperar. Granger continuava respirando rápido e eu tinha certeza que o cheiro dela não ia sair da minha cabeça tão cedo. O cheiro dela eu já conhecia, o gosto não. Será que seria tão bom quanto eu imaginava? Ela iria gritar ou reagir se eu tentasse beijá-la? Tanto faz. Ela não tinha para onde fugir, eu era a fera, ela era a presa, eu a atacaria e ela não ia poder reclamar se eu não me importasse e fosse rápido o suficiente. Ela nem teria chance de desvencilhar-se.
Aproximei-me dela prensando seu corpo na parede fria do armário, ela me olhou interrogativa e eu não tive chance de ver sua expressão depois disso, fechei meus olhos e encontrei seus lábios, pressionando os meus próprios lábios nos dela de modo selvagem. Eu não ligava se isso a assustaria ou não. Pedi espaço para minha língua e me surpreendi quando ela permitiu, comecei a explorar cada canto da boca dela e senti seu gosto doce impregnar em mim, assim como seu perfume, esse sabor iria me infernizar para sempre. Eu não ia pensar nisso agora, não quando a garota que eu amava estava nos meus braços. Que eu amava? De onde eu tirei isso? Sonserinos não amavam. Essas semanas com ela não significavam nada. Mas isso não importava agora. Eu a senti recear um pouco, ela era tão indefesa, frágil, delicada, cada movimento meu parecia assustá-la. Eu queria poder dizer para ela não ter medo. Mas por que fazer isso quando assim é mais divertido? Granger não iria escapar de mim, ela não iria gritar enquanto eu estivesse beijando-a, não iria chorar silenciosamente, ela iria somente me corresponder, era a única escolha sábia, aproveitar já que não pode fugir. E ela parecia inteligente quanto a esse ponto, pois aproveitava tanto quanto eu poderia. Será que eu teria mais alguma surpresa vinda dela? É possível que sim. Deslizei minhas mãos para sua cintura e ela pousou suas mãos na minha nuca. Eu sentia mil sensações que eu não saberia explicar. Sabia que esse era o beijo mais verdadeiro e o melhor que eu já tive, ou melhor, o único no qual eu poderia sonhar. Sonhar, por que isso me parecia tão impossível? Simplesmente porque eu não conseguia, eu tinha pesadelos, eu passava noites em claro, mas jamais sonhava nessas últimas semanas. O meu braço ainda ardia por eu somente pensar naquele fogo marcando minha pele pálida. Eu não queria pensar nisso agora. Eu queria senti-la, ela me fazia esquecer-me do que eu realmente era: um comensal da morte que teria que participar da morte de Harry Potter.

Beauty and the Beast
A Bela e a Fera

Ela era doce, ela era linda. Poderia admirá-la pelo resto da vida e pensaria nos seus olhos castanhos na hora da minha morte. Isso era uma certeza. O rosto dela contrastava o luar. Fazia tanto tempo em que estávamos juntos... E separados ao mesmo tempo. Agora, vendo a lua, vendo as estrelas e sua face, eu não pude deixar de pensar como seria daqui pra frente.
Ela era a melhor amiga do Potter, uma grifinória que lutaria até o fim para não ver as pessoas morrerem, esse era o objetivo dela.
Eu era o pior inimigo do Potter, um sonserino que lutaria até o fim pela ascensão do lorde das Trevas, eu não queria isso, eu queria viver, uma coisa que eu jamais desejei tanto todos esses anos, eu preferiria morrer a ter que ser um comensal, agora meu medo já acontecia. Eu poderia desistir disso? Tarde demais. Eu não desistiria, ela também não. Uma coisa em comum.


Ever just the same
Sempre iguais


Eu podia sentir o cheiro do cabelo dela quando entrava pelas minhas narinas, eu queria poder vê-la enquanto voávamos nos terrenos de Hogwarts, eu queria saber se ela sentia medo, mas um breve momento em que eu pude mirar sua face, revelou que ela estava admirada.
– É tão... Maravilhoso – ela exclamou e eu sorri direcionando a vassoura mais alto ainda, talvez pudéssemos voar para algum lugar distante, onde não precisássemos fugir de nós mesmos.

Ever a surprise
Sempre uma surpresa

 Eu me sentia mal por ter que dizer palavras tão horríveis a ela, eu não poderia permitir que ela me quisesse, não mais.
– Não posso acreditar que uma sangue-ruim como você realmente acreditou que eu sentiria algo, eu nunca te amei, e não amo, ainda te odeio profundamente e nada que aconteça vai mudar o que eu sinto por você. Foi tudo uma brincadeira. Uma diversão, porque eu preciso de desafios já que esse castelo é um tédio – eu disse aquelas palavras imperdoáveis com mais esforço do que eu precisava. – Saia do meu caminho, e, por favor, finja que nada nunca aconteceu entre nós – disse controlando meu falso ódio enquanto suplicava mudamente, sendo insano e contrariando tudo o que eu dizia e pensava. Fique longe de mim para seu bem. Não acredite no que eu te disser. Eu nunca vou te fazer mal. – Suma do meu caminho.
Odiei-me mais do nunca, eu desprezava a mim mesmo, vi ela sair do meu campo de visão tão rápido, mas eu pude ver suas lágrimas gritarem para deslizar seu rosto triste e ainda pude ouvir suas últimas palavras. “Eu odeio que as coisas tenham que ser assim...”  
O que diabos ela queria dizer?

Ever as before
Sempre como antes

Eu queria poder chamá-la e confortá-la, mas eu não podia se quisesse que ela ficasse a salvo. Eu nunca mais a veria, eu tinha ser forte e Granger precisava entender isso. A escola seria só uma vaga lembrança perto dela, o sétimo ano estava acabando.

Ever just as sure
Sempre com a certeza)
 As the sun will rise
De como quando nasce o sol


2 anos depois...

Eu poderia jurar que estava tendo uma alucinação, sim eu estava, aquela não poderia ser Hermione Granger, ela estava... Cansada? Talvez. Sua expressão era preocupada, um pouco mais madura do que da última vez que eu a tinha visto. Ela estava com o Potter e o Weasley. Isso eu sabia, eles estavam desaparecidos há alguns meses, ninguém sabia o paradeiro deles, talvez a tal Ordem da Fênix soubesse, eu devia chamar algum outro comensal. Não, eu não queria. Caminhei devagar pela rua sem movimento e parei atrás dela. Granger estava olhando uma vitrine de livros. Eu devia ter imaginado!
– Como vai indo, Granger? – murmurei essas palavras devagar, mas meio perigoso, sem querer.
Ela se sobressaltou, eu podia ver seu rosto surpreso e incrédulo, seus lábios se contorceram em um sorriso que eu não merecia. Mas eu sorri em resposta. E então a imagem dela se estampou mais ainda em minha mente.
– Metade do mundo bruxo quer minha cabeça, mas eu estou excepcionalmente bem. – Ela respondeu se aproximando e eu senti o cheiro dela se impregnar em mim. E me lembrei de como tudo isso começou, eu deveria me manter longe, senão por mim, por ela. Mas eu não consegui. Novidade!

Tale as old as time
Um conto tão velho quanto o tempo

– O que faz aqui? Achei que estivesse desaparecida. – Perguntei a fitando calmamente, ela parecia mesmo diferente.
– Eu não estou desaparecida, estou escondida, é diferente, e você não tem nada a ver com isso. – Ela respondeu seca.
 Por trás daquela máscara ainda existia a minha Hermione, eu tinha certeza, eu olhei ela mais intensamente, ela corou.
– O que você quer de mim, Malfoy? – o som do meu sobrenome pareceu melhor dito pelos lábios dela, os lábios dela...
– Você não tem nenhuma ideia? – perguntei divertido.

  Tune as old as song
Uma canção tão velha quanto a música


– Eu até tenho, mas e se eu não concordar? – ela perguntou numa falsa inocência.
–E quem disse que você tem escolha? – eu contestei e capturei os lábios dela da mesma forma como antes.

Bittersweet and strange
Amarga e estranha

 Assim como anos atrás, eu ainda sentia as mesmas sensações, eu ainda me lembrava do cheiro dela, do sabor dela, de tudo nela. Meus lábios pressionados nos dela imploravam por alguma reação. Ela me beijou com amor e com desejo. E percebi que minha mente estava me traindo. Pensava nela mais do que deveria e realmente a amava, mas fazer isso com ela não era certo. Dois anos separados não tiveram o efeito que eu esperava: esquecê-la. Mas não, eu a amava ainda mais, ela era uma droga e eu, era um viciado, o sabor dela ia se tornando ainda melhor, mas eu não podia continuar com isso. Eu levei minha face para longe da dela e Granger me fitou confusa e pouco a pouco me entendia.

– Me desculpe – murmurei somente. E saí daquela rua, eu não ia revelar a ninguém que a tinha visto, não havia testemunhas.

 Finding you can change
Descobrindo que você pode mudar

Foi com surpresa que eu a encontrei na frente do caldeirão furado, ela usava uma capa cinzenta de viagem, me aproximei devagar, sussurrei em seu ouvido:
– Que surpresa te encontrar aqui. – Ela se arrepiou. Eu sorri.
– Malfoy? Está me seguindo? – ela me perguntou sorrindo.
– Granger, faz um mês que eu não te vejo... – murmurei a ela. – O que está realmente acontecendo? Você some do mundo bruxo e reaparece às vezes? – eu perguntei a fitando.
– Malfoy... Eu não tenho que te falar o que eu faço ou planejo, você escolheu seu caminho, eu escolhi o meu. – Ela disse essas palavras sem se afetar.
– E se eu tivesse um bom motivo pra... Ser o que sou? – eu perguntei estudando a reação dela. Choque? Tristeza? Desapontamento? Eu não sabia.
– Você acha que alguma coisa pode explicar você ser um comensal? Você acha que isso vale de alguma coisa?
– Veja por um lado... Eu não sou totalmente fiel ao Lorde das trevas... – eu disse baixo com medo que alguém me ouvisse.
– Você vai traí-lo? – ela disse sem se preocupar com seu tom. Eu tampei a boca dela rápido.
– Vem comigo. – Eu a puxei para dentro do caldeirão furado e a levei para meu quarto.
Esse era meu refúgio, era para onde eu ia quando não suportava minha verdadeira casa, agora cheia de comensais.
– Senta aí. – Eu indiquei a cama e puxei uma cadeira ficando de frente para ela.

 Learning you were wrong
Aprendendo que você estava errado

Eu a olhei fixamente nos olhos, estava mesmo prestes a abandonar minha
missão de comensal? Eu devia descobrir onde o Potter estava. Assim toda essa
guerra acabava logo e eu poderia viver como bem entendesse. Quando os comensais descobrissem a localização deles, tentariam chegar ao Potter afetando seus amigos, eu teria que proteger a Granger.
 – Digamos somente que eu não concorde com o que Você-sabe-quem faz. Eu nunca quis ser um comensal, eu nunca jurei lealdade a ele.
– Então você decidiu...?
– Permanecer indiferente quanto a isso. Eu vou continuar servindo a ele, você não achou que eu lutaria lado a lado com o Potter não, né? – eu perguntei sarcástico.
– Isso nunca – ela murmurou divertida e voltou à sua expressão triste. – Então por que você continua se importando comigo? Você não está tentando me entregar a ninguém.
Eu ri, como ela não conseguia ver que eu nunca a entregaria?
– Eu nunca vou te entregar a ninguém – respondi sorrindo e completei contrariado – porque você é minha. Mesmo que não possamos ficar juntos com toda essa loucura, eu ainda iria pra onde quer que você fosse.
Ela sorriu e eu me senti a pessoa mais feliz do mundo. Era uma felicidade curta, para falar a verdade.
– Draco, mesmo que você ache que nunca teríamos chance de ficarmos juntos nessa guerra, eu ainda tenho esperança de que isso aconteça, porque ainda te amo.
– E o que você acha que eu sinto? – sorri com a ironia – é exatamente o mesmo.
– E se pudéssemos aproveitar só mais um minuto juntos? E se amanhã tivéssemos que nos enfrentar? – eu abri a boca pra falar, mas ela me impediu. – Eu não estou dizendo pra você falar o que faria quando esse duelo chegar, eu estou perguntando se você iria querer um último beijo... Uma última chance para ficarmos juntos...
Ela queria mesmo ficar comigo, mesmo que eu tivesse que enfrentá-la? Matá-la? Mesmo que soubesse que eu nunca seria capaz de fazer isso?

 Certain as the sun
Certo como o sol

 – Então, Draco? – ela insistiu.
 O que eu fazia? Eu não queria magoá-la, eu não podia decepcioná-la. Mas eu queria ficar com ela, nem que fosse só mais uma vez.
– Eu não quero te magoar de novo... – disse com minha voz arrastada.
– Então me beije... – ela suplicou e sem pensar em mais nada eu a puxei pela cintura de encontro ao meu corpo, suas mãos contornaram o meu ombro, e uni nossos lábios num beijo terno e longo, cada temor, cada desejo, cada lamento, tudo era transmitido nesse toque, nessa necessidade. Eu não aguentava mais sofrer por ela, eu não podia mais magoá-la, aproveitei cada instante e me afastei um pouco ainda a abraçando. Olhei sua face, tão séria e concentrada, tão bela e doce. Ela sorriu um pouco, eu tive vontade de contornar seus lábios com a ponta dos dedos. Fiz isso e senti-os macios e quentes. – Eu quero você, Draco... – ela disse e eu não consegui me segurar mais.
Puxei Hermione em outro beijo terno e acolhedor, eu praticamente sugava seus lábios e meu corpo gritava pelo dela. Não aguentei e a peguei no colo sem parar de beijá-la. Caímos na cama, eu em cima dela, continuei a explorar seus lábios pedindo passagem para a língua, ela suspirava baixo entre meus beijos e eu desci minhas mãos até sua coxa. Ela gemeu baixo, e eu pensei que estivesse receando o que ia acontecer, mas não, ela continuou me beijando e começou a tirar minha camisa botão por botão, cada vez mais ansiosa, eu então tirei a blusa dela deixando-a apenas com o sutiã negro cobrindo seu colo, abandonei sua boca e comecei a beijar seu pescoço, as unhas dela passeavam por minhas costas nuas e me arranhavam ferozmente.
Sentia uma série de sensações que nunca antes experimentei e percebi que eu tinha a pessoa que amava comigo, mesmo que eu não pudesse tê-la de novo, essa seria a nossa noite, só nós e mais ninguém.
Comecei a beijar toda a extensão de seu colo e tirei sua calça sem parar de acariciar seu corpo quente. Então ela reagiu inesperadamente, ela me virou na cama e ficou sobre mim, sorrindo de forma provocadora e sensual.
– Hoje sou eu que mando, Malfoy... – ela sussurrou bem no meu ouvido e continuou me beijando arduamente, arranhando minha nuca e me tirando o pouco juízo que possuía. Ela não aguentou esperar mais e tirou minha calça sem o mínimo esforço. – Você vai sofrer... – ela disse divertida e eu tive medo do que ela planejava. Era uma mistura de prazer e surpresa, já que eu nunca imaginaria Hermione Granger tão sexy e provocante. Livramos-nos do resto daquelas roupas desnecessários e eu pude ver o quanto ela era perfeita, meu desejo aumentava ainda mais a cada vez que eu a mirava. E investia em seu corpo frágil sentindo que minha paciência para tê-la logo estava acabando. Mas finalmente entendi o que ela quis dizer, ela ia me fazer sofrer muito, Granger segurou meus braços na cama enquanto eu tentava virar aquele jogo, eu tentei ficar por cima dela novamente, mas ela escapou como se previsse meu movimento, em vez de acabar com meu sofrimento ela continuou a colocar lenha naquele desejo incontrolável, senti ela beijar meu pescoço ferozmente enquanto sua mão passeava por meu tórax. Eu estava gostando daquilo, mesmo que pudesse inverter os papéis em um piscar de olhos. Ela era fraca de qualquer modo e mesmo assim eu não consegui controlar mais, a virei na cama e sorri marotamente, agora era a minha vez de maltratá-la.
A prendi com meu próprio corpo enquanto torturava ela sugando seu pescoço, descendo para seus seios, beijando-a loucamente. Então eu perdi a paciência e comecei a invadir a privacidade dela lentamente, fundindo seu corpo ao meu, deixando que ela suspirasse e gemesse baixo, desejando que aquele momento não acabasse nunca.
– Draco... – ela sussurrou baixo enquanto eu continuava a penetrando – não pare – ela disse e eu sorri marotamente aumentando o ritmo, cada vez mais perto do limite de meus desejos, mirando o corpo nu daquela mulher em meus braços.
– Você é minha – me vi sussurrar em seus ouvidos e a cabeça dela pendeu para trás por prazer.
Pouco a pouco o suor descia em meu rosto e logo estávamos emaranhados naqueles lençóis, as costas dela presas em meu peito, meu rosto afundado em seus cabelos castanhos.
– Eu te amo – ela disse e mesmo que eu não pudesse ver seu rosto eu sabia que ela estava sorrindo.
– Eu também – respondi no mesmo tom e percebi o quanto aquilo era clichê. Qualquer um poderia dizer aquilo, então acrescentei – meu amor... – e caí no sono.

Os raios da manhã que atravessavam a janela machucaram meus olhos assim que eu os abri, logo percebi que não estava sozinho, eu estava dormindo ainda provavelmente, mergulhado em um sonho em que Hermione estava na minha cama, mas lembrei-me do que aconteceu na noite anterior e sorri. Levantei-me a custo e fiquei fitando ela dormir, o lençol permanecia enrolado em seu busto deixando as costas à mostra. Eu sorri e vi ela despertar tranquilamente e corar.

– Nunca sonhei que eu pudesse acordar com essa visão – ela disse irônica e eu ri puxando seu lençol, mas ela o agarrou. – a brincadeira foi ontem, Malfoy. – eu ri mais ainda e comecei a caçar minhas roupas pelo quarto e me vesti, voltei então à cama onde ela ainda se encontrava, me deitei sobre ela capturando seus lábios inchados.
– Bom dia, meu amor – eu disse e ela sorriu.
– Dormiu bem?
– Você não faz ideia do quanto. – Eu disse irônico e ela revirou os olhos se levantando e caçando suas próprias roupas. Mas logo que ela terminou de se vestir eu comecei a pensar no eu ia fazer agora. Droga! Como eu sou burro! Deixei que a melhor noite da minha vida acontecesse para que? Para ter que deixá-la de novo? Eu tinha que acabar com isso logo.
– Hermione, me perdoe por te fazer sofrer – eu disse essas palavras sussurrando, mas ainda assim ela escutou. – Eu não vou pedir para você me entender, nem vou mentir, a verdade é que eu sou leal ao meu mestre, eu não posso traí-lo, não a essa altura da guerra. Mas ainda assim eu posso amar, e é você que eu amo, profundamente, eu não quero te ver partir, mas essa a única escolha sensata, ficar longe de seus inimigos, e é isso que vamos fazer, eu nunca vou estar ao lado do bem, eu sou o vilão – eu sorri ao dizer isso, mas voltei a minha postura séria que meus dezenove anos permitia. – Então se é pra você ir, eu desejo que vá logo.
Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, uma coruja bicou a janela do quarto e eu a abri, a ave pousou ao lado de Hermione e ela tirou a carta do bico da ave, começou a ler concentrada, provavelmente se esquecendo de minha presença aqui. Ela terminou e seu olhar caiu sobre mim. Ela olhou o cômodo e pegou uma espécie de caldeirão que estava jogado numa estante.
– Eu realmente sinto muito por isso, mas é melhor que não continuemos insistindo em ficarmos juntos, afinal, nunca vamos ter um futuro – ela disse e colocou a carta dentro do caldeirão velho – eu te amo, sempre vou amar, pela eternidade. – Ela disse e eu vi uma lágrima trilhar seu rosto. Ela pegou a varinha e murmurou alguma coisa, o caldeirão pegou fogo e junto a carta. – Não como uma chama que se apaga e vira cinzas... mas como uma fênix que nasce delas, viver após a morte... Pela eternidade. – Ela disse e seguiu em direção à porta, ela se virou novamente pra mim – Adeus, Draco. – E foi embora.
Senti algo comprimir meu peito, era a dor. Fitei as chamas que ela havia feito, a carta estava quase queimada, somente poucas palavras poderiam ser lidas agora: Cemitério de Little Hangleton.

 Rising in the east
Nascendo no leste

Levei poucos segundos para entender. Ela estava abatida quando saiu daqui, e quando recebeu a carta, ela disse aquelas palavras como se estivesse se despedindo, palavras de alguém que sabia que não ia voltar a ver alguém, palavras de alguém que iria a uma guerra, uma batalha, palavras de alguém que se despede. Um local, um cemitério. Eu deveria estar lá? Oh! Ela queimou a carta para eu não ler. Ela estava planejando algo, ela e os seguidores do Potter. Eu deveria impedir? Eu era leal ao lorde das Trevas e se eu perdesse aquela guerra seria preso. Peguei um pergaminho jogado num canto e comecei a escrever. Parei. O que eu estava fazendo? Trair a única que eu amei? Nunca. Rasguei a carta que eu estava escrevendo e joguei nas chamas para que também queimasse. Eles descobririam que Potter iria para lá, de qualquer modo. Hermione estava em perigo e, assim, desaparatei para o cenário da batalha que iria ser travada.

Fim do Flashback

Tale as old as time
Um conto tão velho quanto o tempo

Fitar o rosto dela era pior que a morte, eu era o responsável por isso, ela sofria mais ainda agora. Eu traí a única pessoa que me amava verdadeiramente, agora eu via que eu nunca conseguiria nada no lado das trevas, de que adiantava poder e glória sem ela? Idiota! Eu fui um tolo. A única coisa boa que eu fiz foi tentar salvá-la dessa batalha quando Bellatrix Lestrange tentou matá-la, eu estava prestes a dizer a maldição imperdoável, eu ia matá-la, mas McGonagall, Flitwick e Snape entraram num duelo com a comensal. Procurei Hermione e vi ela caída, ferida e sangrando, algum feitiço a atingira, eu me dirigi a ela e a carreguei para longe da confusão da batalha, foi difícil escapar de tantos feitiços, acabei com um corte na perna, mas ele não me fez ceder. Coloquei-a deitada sobre o chão. Vulnerável e ferida. Senti dor e medo de perdê-la. Nem o ambiente me faria sentir mais medo, tantas lápides, tantos ossos, o céu negro, as luzes verdes e vermelhas por toda parte.

– Me desculpe, eu fui um idiota – eu murmurei e tentei acariciar seu rosto, quantas vezes eu a faria sofrer? Ela abriu os olhos, sua respiração alterada. – Onde que você sente dor? – eu perguntei procurando seus machucados.
– Aqui – ela colocou a mão no peito, sobre o coração.
– Eu vou recompensar cada ferida sua, vou fazer a coisa certa, nem que seja a última coisa que eu faça. – Eu murmurei essas palavras e toquei seus lábios com os meus – eu prometo.
Vi Gina Weasley passar rápido por dois comensais e estuporá-los, ela correu em nossa direção e apontou a varinha pra mim.
– Saia de perto dela – ela disse ríspida. Eu me levantei e deixei a garota Weasley chegar perto de Hermione. – O que você fez com ela?
– Ele me tirou de lá, eu fui ferida. – Hermione apontou a grande clareira a nossa frente. A Weasley me olhou desconfiada.
– Diga ao Potter que Você-sabe-quem está tentando fazer reféns para chegar até ele. Ninguém tem permissão para matá-lo, mas qualquer um vai tentar atacá-lo, Você-sabe-quem espera emboscá-lo, enquanto os comensais lutam com os aurores e outros aliados de vocês.
– Por que está dizendo tudo isso? – ela continuou a apontar a varinha pra mim e eu queria mais do que tudo que ela acreditasse, eu estava fazendo a coisa certa dessa vez.
– Porque eu não quero ferir mais ninguém, de que me adianta tantas mortes?
 Ela pareceu acreditar, porque disse que ia falar com o Potter e saiu de nosso campo de visão, eu ajudei Hermione a se levantar, mas ela parou onde estava.
– Draco, está na hora de você decidir, de que lado você está? Do lado de Voldemort ou do Harry?
– Estou do seu lado – eu disse e completei a contra-gosto – do lado de Harry Potter.

Song as old as rhyme
Uma canção tão velha quanto a rima

Vi ela sorrir e depois disso tudo aconteceu muito rápido, num momento eu estava a fitando, no outro comensais apareceram e nos atacaram.
– Estupore! – eu murmurei acertando eles, mas vi algo fazer barulho ao desabar no chão. – Hermione! – eu gritei e a puxei para mim, ela sangrava mais ainda e respirava com dificuldade. – Olhe para mim – eu pedi e ela me olhou profundamente. – Eu vou acabar com essa guerra – rosnei com ódio e a ajudei a se levantar.
– Eu consigo... matá-los – ela disse antes de mais comensais avançarem e nos atacarem, mas vi que ela desviou os ataques. – Sectumsempra! – ela murmurou.
– Cuidado! – eu gritei ao ver Yaxley avançar. – Crucio!  mas nisso eu me distrai e ouvi uma voz cortante e cruel.
– Avada Kedrava!  virei-me e vi os olhos de Hermione perderem o foco, seu corpo tombou sem vida no chão frio e junto com ela, foi meu mundo. Voltei-me para seu oponente e comecei a seguir a assassina de meu único amor. – Eu matei a sangue-ruim – Bellatrix disse debochada.

Crucio! – eu disse com profundo ódio. – Você vai se arrepender disso!
– O que foi Draco? Vai me matar por causa dela? Sabia que você nunca a faria feliz? Ela sofria... eu só acabei com seu sofrimento miserável. – A comensal disse com seu olhar letal, ainda segurando sua varinha.
– Mentiras! – eu gritei e antes dela avançar sobre mim eu a desarmei.

“A vida cheia de ódio e maldade não é uma vida.”  Escutei a voz dela em minha cabeça.
Eu sentia ódio, eu queria matar Bellatrix Lestrange, Hermione iria querer me ver como um assassino. Não. Ela não iria querer isso. Maldita sangue-ruim! Sem perceber eu estava sendo completamente devorado pela insanidade.
– Vamos, Draco, deixe de ser fraco – a assassina me desafiou.
– Você é a fraca, você vai perder e me dá náuseas – eu disse sentindo meus olhos embaçarem. – Eu não vou sujar as minhas mãos com seu sangue imundo – eu disse e percebi que cada vez mais os comensais eram atacados e vi o próprio Voldemort em um duelo mortal com Harry Potter. – Está acabado Lestrange. – eu falei e Voldemort caiu morto depois de uma investida do cicatriz, sem ninguém que pudesse ressuscitá-lo para uma nova era de repressão. – Tudo acabou.

Voltei para onde estava o corpo sem vida da mulher que amei.

Me deitei ao seu lado, deixando as lágrimas molharem o rosto dela, Hermione não sofreria mais, não sentiria medo, tudo estava acabado. Mas eu não imaginava como seria viver em um mundo sem ela.
Seria tedioso.
Normal demais.
Cruel e insano.
– Avada Kedavra! – a maldição nunca dita antes por meus lábios iluminou a ponta de minha varinha e o feitiço se fincou em meu coração, e em meus olhos apenas a última visão do que fora Hermione Granger. Estaríamos juntos... Pela eternidade.  

 
Beauty and the Beast
A Bela e a Fera


N/A: Como essa shortfic ficou? Essa foi a primeira NC que eu escrevi, que aliás foi há muito tempo... Essa fic foi postada originalmente em 12 de julho de 2009. Agora está revisada e editada. 
Ok. Eu sei que foi sacanagem matar os dois no final, mas eu sempre quis escrever isso *autora completamente insana* suhshuhsshshushus. Mas na verdade eu levei dias para decidir esse final...
bjos :*
Gabi 






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